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 A Vôo Migratório da Andorinha Rafaela.

 A Vôo Migratório da Andorinha Rafaela.

Queixa:

Andorinha Rafaela:

Já era de manhã do primeiro dia de verão, quando a Andorinha Rafaela abriu seus olhos pela primeira vez. Seu Pai e sua Mãe soltaram um silvo agudo de felicidade quando os seus olhos se encontraram. Souberam que aquele momento era único e que os três juntos formariam uma família dali por diante. Outros três guinchos se fizeram ouvir e a Andorinha Rafaela percebeu que junto com ela, no seu ninho, havia mais três irmãozinhos, todos sem pena,branquelos e também, como ela, loucos de fome.

Papai e Mamãe revezavam-se na coleta de insetos de vários tamanhos para alimentar seus filhotes. Com vôos rasantes e suas asas bifurcadas podiam capturar insetos com muita facilidade, e um a um os colocavam dentro do bico de cada um de seus filhotes. Aquele era um momento muito especial. O contato da Andorinha Rafaela com o Papai e, também com a Mamãe, trazendo a comida, criou para ela um amor que se associava aos dois. Eram como uma extensão dela própria, extensão que depois incluía o ninho de barro e saliva, e ao canto dos milhares de casais que mais uma vez fizeram ninho sobre a represa do rio naquele verão.

De dentro do ninho se via todo o vôo do bando de andorinhas pelo ar. Era espetacular ver como um bando inteiro podia fazer manobras tão acrobáticas juntos! Não havia nenhum comando e mesmo assim quando o bando se virava para esquerda todos seguiam na mesma direção e quando virava rapidamente para a esquerda seguido de um mergulho vertical, assim também todos o faziam. Eram acrobacias muito lindas de se ver, e a Andorinha Rafaela olhava tudo com muita atenção para aprender, pois uma vontade enorme de voar já tomava contava do seu peito, e então ela batia fortemente as asas dentro do ninho para sentir que estavam cada vez mais fortes. (clique aqui).

Foi no 30º. dia que algo de maravilhoso aconteceu. A Andorinha Rafaela tinha batido muito as asas naquela manhã e com toda a força que conseguira. Já pela tarde continuava a bater as asas até que começasse a sentir seus pés flutuando, já saindo do ninho. Papai e Mamãe se entreolhavam surpresos e muito contentes: já seria a hora do primeiro vôo da Andorinha Rafaela? Muito agitados, Papai e Mamãe começaram a também bater asas e a grajear para a Andorinha Rafaela e ela, em resposta, batia ainda mais forte as suas asinhas, cada vez mais forte e mais forte, e olhando nos olhos de Papai e Mamãe, bateu as asas com toda a sua força e num esforço final voou! Foi uma alegria sem par! Está certo que primeiro ela despencou alguns metros toda estabalhoada, mas quando viu que já estava voando, lembrou de como observara o bando por todos estes dias, e voltara a bater as asas graciosamente, e então fez um vôo planado rasante espetacular! Papai e Mamãe a seguiam e a orientavam. Os três juntos foram a atração daquela tarde junto à represa por voarem tão graciosamente já na primeira vez como uma família.

Depois daquele dia o verão correu alegre. Todos os dias havia vôos com todo o grupo de andorinhas da represa: manobras inusitadas, vôos inesperados e… Novos amigos! Novos filhotes de outras famílias, que também nasceram e aprenderam a voar na mesma temporada. A Andorinha Rafaela agora pertencia a uma família que ia além de Papai e Mamãe e que incluía todo o bando e até alguns filhotes andorinhas-machos que olhavam diferente para ela, e ela sentia um batido no peito mais rápido sempre que eles olhavam. O que seria aquilo?

Com a aproximação do fim do verão, o bando de andorinhas do rio começou a se apressar, Papai e Mamãe explicaram para os filhotes que era hora de se mudarem e fazerem o primeiro vôo migratório para um outro lugar, que todos iriam adorar. Seria um vôo longo e todos deviam estar muito bem alimentados, e para isso, a caça aos insetos tinha aumentado e estavam todos ficando fortes e cada vez mais dispostos. (clique aqui). Alguns chegavam a comentar que a viagem iria tomar muitos dias e noites e que eles viajariam uma distância enorme. (clique aqui).

Quando o bando todo finalmente partiu foi uma agitação geral, um verdadeiro espetáculo. Pela primeira vez, todo o bando da represa do ri voaram ao mesmo tempo. Nenhuma andorinha ficara para trás. Eram centenas, milhares de andorinhas subindo cada vez mais alto em busca das correntes de ar que dariam a direção para a rota migratória. Durante o percurso, a Andorinha Rafaela estava muito agitada. Procurava sempre ficar perto de Papai e Mamãe e dos outros filhotes. Foi assim no primeira semana, na segunda e na terceira semana do vôo migratório. Até que o inesperado aconteceu. Quando estavam já sobre um grande mar azul a quilômetros de distância do solo, outro bando de andorinhas vindo do leste se juntou ao deles e logo em seguida um outro bando de andorinhas vindo do oeste também se juntou ao enorme grupo. Agora o bando estava enorme e com muitas andorinhas novas para conhecer, para voarem juntas e até aprender outras manobras com as novas companheiras! A Andorinha Rafaela estava muito feliz. Percebia que o que aprendera em família, tivera sido apenas o começo do seu aprendizado, e que agora continuava seu aprendizado sozinha, com suas próprias experiências. Estava independente para voar e seguir com as novas companheiras seus vôos próprios Muitos anos depois a Andorinha Rafaela sempre se lembrava deste momento em que se sentiu emancipada. Percebera então que sua família havia aumentado e que todas as novas experiências traziam amizades e momentos importantes.

Foi quando percebeu que já por alguns dias não via nem Papai nem Mamãe. Um sentimento estranho tomou conta dela. Ela, pela primeira vez, desde o abrir dos olhos no ninho, desde a primeira comida na boca, desde o primeiro vôo com Papai e Mamãe, desde que os novos bandos chegaram, desde tudo o que já havia sentido, pela primeira ela se sentia só. Um sentimento recíproco de abandono tomara conta dela: Será que Papai e Mamãe haviam deixado ela para trás, se esquecido dela? Ou será que ela tinha se perdido sozinha ao conhecer suas novas amizades? Se fosse assim, Papai e Mamãe deveriam estar muito preocupados!

Pelas semanas seguintes continuava procurando por eles, mas o bando agora estava muito grande e muito difícil de se fazer contato. E como todos estavam sempre voando, parar poderia significar perder o contato com a rota migratória do bando, perder o rumo ao destino tão esperado.

As semanas se passaram e quando o vôo migratório terminou, o bando chegou num lugar lindo descampado perto de umas montanhas altas cobertas de neve. Durante todos os meses que se seguiram a Andorinha Rafaela, não vira mais Papai e Mamãe. Talvez devessem ter ido para rumos diferentes, cada um dentro do seu próprio vôo migratório e à procura de novas experiências e necessidades (clique aqui). Ela mesmo, agora, vivia em outro mundo, diferente daquele onde nascera, com pessoas diferentes que também a amavam como sempre se sentira amada pelos pais! Até mesmo ela encontrara uma andorinha-macho muito legal, que gostava de passar o pôr-do-sol juntos, e que ficara com ela durante todo o outono, inverno e a primavera no descampado das montanhas altas cobertas de neve. Aquele antigo batido mais forte no peito que sentira quando filhote, começava a ter sentido e trazia novos horizontes para a Andorinha Rafaela.

Chegara então o verão no Pólo Sul! Era o tempo de se fazer novamente o vôo migratório para o lugar onde nascera: para a represa do rio! Era muito excitante pensar em voar de novo para lá agora com novos amigos e seu namorado. O vôo de volta também levou semanas. E era incrível perceber que ela sabia o caminho, podia se guiar sozinha. O caminho que outrora fora ensinado por Papai e Mamãe agora era dela, estava com ela para sempre.

Quando finalmente chegaram à represa do rio, a Andorinha Rafaela foi naturalmente para o seu ninho, aquele onde nascera. Foi quando encontrou, para sua grande surpresa, o ninho já ocupado por Mamãe e seu novo companheiro!! E logo acima, Papai também com sua nova companheira!! Ambos a reconheceram imediatamente. E foi então, com imensa alegria que todos puderam voar mais uma vez juntos, todos que se amavam e, por algum motivo ou outro durante suas jornadas tiveram que se separar momentaneamente, mas agora, como todos podiam sentir, o amor nunca os deixara. O amor tinha sobrevivido a todos os vôos migratórios, a todos os desvios, e até mesmo às necessidades individuais, e principalmente ao tempo. Ao olhar nos olhos de Papai e de Mamãe sentira que nunca havia estado só, que eles cada um na melhor de suas vontades, sempre pensaram nela e sempre carregavam no seu peito muita saudade e a esperança de se encontrar novamente. E por terem sempre deixado esta possibilidade no seu coração, agora finalmente se reencontravam. A Andorinha Rafaela aprendera o que era amor. E sua não era como outras histórias de amor de outras andorinhas Ao contrário, era uma história linda! (clique aqui).

E por muitos anos, muitos vôos migratórios, muitos verões, despedidas e reencontros, a Andorinha Rafaela aprendera a amar e a perdoar. Aprendera a dizer adeus deixando sempre o coração aberto para um novo reencontro. Aprendera que cada um tem seus próprios Vôos Migratórios, mas que estes vôos não significam abandono e, para quem se ama, os Vôos que levam são os mesmos que trazem de volta, as pessoas queridas.

Foi um verão maravilhoso aquele verão na beira da represa do rio!